A minha bronca há um tempão é fazer com que a leitura seja uma realidade
na vida das pessoas, não apenas a leitura fácil, gostosa e aventureira; mas a
leitura difícil, clássica, “chata”, que te deixa pensado, horas acordado
tentando decidir se era ou não uma barata, se traiu ou não, o que será que
significam estes tais olhos de ressaca, de cigana oblíqua e dissimulada que eu
queria tanto ter, ou aquele mover-se pela vida como um saveiro. Queria a
palavra bem-dita, a palavra maldita, a palavra incômoda que fere e desafia, a
palavra-esfinge que apenas finge se entregar às interpretações. Entretanto,
para não ser leitora sozinha perdida no meio das entrelinhas, era necessário
criar mais de mim, mais pessoas para quem a leitura dobrou o cabo da Boa
Esperança e se tornou não hábito, nem costume, muito menos apenas gozo e
fruição, mas desafio pego de propósito, chamado pra si e por si, num caminho
pessoal em que o leitor não mais necessitaria de mim para ser formado,
formar-se-ia a si através do que eu havia ensinado. Assim nasceu minha sina de
professora e aluna que ensina e aprende em meio às confusões das salas de aula,
minha bronca não seria mais apenas minha, teria um sem-fim de leitores em
formação.
"Queria a palavra bem-dita, a palavra maldita, a palavra incômoda que fere e desafia, a palavra-esfinge que apenas finge se entregar às interpretações." CORREIA, Mariana. 2018
quarta-feira, 10 de janeiro de 2018
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